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domingo, 18 de novembro de 2012

Professora cria jornal e mobiliza 120 alunos em escola da periferia de SP

'Figueiredo News' retrata os problemas da comunidade de escola municipal.
'Com o jornal aprendi a ver o mundo de forma mais crítica', diz aluna.

         Visto como um espaço para emitir opiniões, exercitar o senso crítico e registrar a história, o jornal ‘Figueiredo News’ se tornou o xodó dos alunos da escola municipal Desembargador Manoel Carlos de Figueiredo Ferraz, no bairro Pedreira, na Zona Sul de São Paulo. A escola Figueiredo, como é conhecida, abriga 1.100 alunos do ensino fundamental 1 e 2, além de Educação para Jovens e Adultos (EJA) fica no entorno de cinco favelas.


       "O jornal tem a nossa cara e gostamos muito de falar sobre os eventos da escola. Quando sai, mostramos para os pais, para os vizinhos”. Pâmela Ribeiro dos Santos, de 13 anos.
          A "editora" do "Figueiredo News" não é jornalista, mas criou o jornal para suprir a necessidade de registrar a história da escola que tem mais de 50 anos. Alessandra Silva de Souza, de 34 anos, foi aluna da escola Figueiredo, mora no bairro Jardim São Jorge, bem próximo do colégio, se formou em geografia, e hoje dá aulas no Figueiredo. Também leciona
em um colégio particular no bairro Granja Julieta, em São Paulo.

          “Muitas festas e eventos marcaram minha época de escola e percebi que nos dias de hoje não havia arquivo ou qualquer outro registro. Comecei a estudar técnicas jornalísticas, trabalhar com as notícias. O projeto jornal foi muito bem aceito”, diz. O nome e o logotipo do veículo foram escolhidos pelos estudantes por meio de um concurso.
          O projeto começou em 2011 e para produzir o material, os alunos permanecem na escola no contraturno. Atualmente cerca de 120 estudantes do ensino fundamental 1 e 2 estão envolvidos no trabalho. O ‘Figueiredo News’ tem nove editorias que contemplam as informações da escola, do bairro e até do país, divididas em dez páginas. A periodicidade é  semestral e a diagramação é feita pela própria professora Alessandra, nos computadores da escola. 

          O jornal é fixado em murais espalhados pela escola e como a quantidade de cópias não é suficiente para atender todos os alunos, há um revezamento entre eles que levam para casa, mostram para os pais, e depois repassam para os demais colegas. A terceira edição deve sair nesta primeira quinzena de novembro. A expectativa para o próximo ano é mudar a periodicidade para bimestral e criar a versão eletrônica.
          Alessandra diz que um dos objetivos do jornal é trazer a comunidade para escola e fazer com que as crianças se reconheçam neste espaço. “Eles precisam sentir que existe expectativa além da sala de aula.” Deu certo. O projeto virou a sensação da escola Figueiredo.
          “O jornal tem a nossa cara e gostamos muito de falar sobre os eventos da escola. Quando sai, mostramos para os pais, para os vizinhos”, diz Pâmela Ribeiro dos Santos, de 13 anos, do 8º ano.
          A participação do projeto não é obrigatória, nem conta nota. Mas a partir do momento que o aluno opta por ajudar, assume compromissos de escrever, fotografar e entrevistar. Cada grupo é responsável por uma editoria. Há alunos dos 8ºs e 9ºs anos como monitores que coordenam a produção dos estudantes menores.
          “Com o jornal aprendi a ver o mundo de forma mais crítica, leio notícias e aprendi a dar minha opinião. Quando o jornal sai, sentimos orgulho de saber que foi a gente que fez e que nossa escola pode”, afirma Ligia Ferreira Santos, de 14 anos, do 8º ano.
          Lucas Cícero do Nascimento, de 12 anos, do 7º ano, é o responsável pelo editorial da próxima edição. Estudioso e dedicado, ele é um destaques de sua classe. Nas edições anteriores, Lucas participou da produção das enquetes e reportagens.
          O garoto diz que ama escrever porque o deixa mais calmo e sempre quis participar do projeto, quando conseguiu “realizou um sonho.” Quando crescer, quer ser jornalista. “É uma profissão que informa, ajuda as pessoas, acho digna.” Para Lucas, o bairro sofre com a falta de lazer, e a escola Figueiredo é o que a comunidade tem de bom. “Gosto de ler e estudar em casa, fazer o jornal acaba sendo uma diversão.”
         Os quadrinhos da edição da editoria de entretenimento do ‘Figueiredo News’ são responsabilidade de Felipe Santos Barbosa, de 12 anos, e Israel Escudeiro Evangelista, de 11 anos, do 6º ano. A dupla vai desenhar sobre o problema que o lixo acarreta nos dias de chuva. “O jornal proporciona mais conhecimento e nos permite trabalhar em grupo. Quando saiu a última edição fiquei tão feliz, nem parecia que eu que tinha feito”, diz Felipe. Para Israel, o projeto permite que as crianças aprendam sobre assuntos diferentes.
Prêmio

         O ‘Figueiredo News’ rendeu a professora Alessandra o Prêmio Victor Civita Educador
Nota 10 que premia práticas educativas de sucesso em todo o país. O projeto dela e de outros dez professores e um diretor de escola receberam o prêmio. A entrega do troféu da 15ª edição ocorreu em outubro na Sala São Paulo.
         Apesar de ser a criadora e coordenadora do jornal, a professora diz que ele não é sua propriedade. “Se eu sair da escola, o jornal vai continuar, é um projeto dos alunos. É uma ideia que deve ser compartilhada, já que a história não tem dono.”

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